quinta-feira, dezembro 30, 2004

Nestes dias

Nestes dias atarefados
a resolver problemas complicados
em que o cérebro está cansado
e o corpo desgastado.

Sem ter tempo para escrever,
só para estudar e comer
é que o há, pois para dormir
o tempo passa a fugir.

Levanto-me ainda antes de me deitar
ainda agora fechei os olhos
já me estão a acordar.
Noite curta sem sonhos.

Queria escrever para espairecer
mas a caneta arrasta-se a custo
a inspiração parece morrer
a tinta levou um susto.

Deixando um rasto horrivel
reflexo da inspiração perecível
qual tsunami devastador
esta tinta traz-me dor.

Se eu soubesse ler
podia dar outro parecer,
mas eu não leio, sinto
e apenas não minto.

Sinto cada letra e conjunto delas,
chamam palavras a coisas tão belas,
que eu sinto com clareza.
Mas o que é beleza?

Como podem coisas belas
originar outras tão feias?
Como podem coisas daquelas
magoar mais, que cortar as veias?

Perguntas de retórica
colocadas de forma eufórica,
mas fora do contexto
em versos que formam um texto.

Que me perdoe quem o ler
pois escrevo por ter que o fazer.
Embora não goste do que escrevi
precisava de escrever aqui.

Fico melhor quando estou a escrever
pairo sobre o mundo sem descer
Sinto tudo à minha volta
Deixo a mente vaguear solta.

Sinto a dor e o lamento
sem me causar sofrimento.
A Fénix é a minha inspiração
renascendo das cinzas da frustração.

Tomando conta da caneta
que se torna leve e ávida,
devorando linhas de forma rápida
mais veloz que uma seta.

E agora sim, é este palavrear
que me faz usufruir prazer
de simplesmente escrever,
deixando caneta deslizar.

Nesta valsa que a caneta pauta
a mão é mera acompanhante
que arrastada pela caneta salta
para o próximo verso rimante.

Apesar de ser entusiasmante
e de o final me estar a agradar,
como tudo na vida tem que acabar.
Perdoem-me o início frustrante.

Se gostarem destas últimas, metade
do que eu estou a gostar,
deliciados vão ficar.
Sempre deu para matar saudade.

domingo, dezembro 12, 2004

Mar

É difícil manter a chama acesa
quando se sente a alma presa.
Qual onda revoltada
quando embate na areia,
retorna, tranquilizada.
Tanto a última como a primeira.
Assim me encontro eu.
Revoltado num pensamento só meu,
embato com raiva no papel
libertando-me do amargo fel,
retornando apaziguado,
na mente renovado.

A tinta ondula violentamente
libertando-me lentamente,
finalmente se liberta a alma,
começo a pensar com calma.
Mar azul, sem cristas brancas
movendo-se com ondas mansas,
pesadelo para os surfistas
que vagueiam, quais turistas.
Aroma salgado da maresia
transborda na poesia.
Azul cortado por um barco,
sulcos num calmo charco.

O sol aquece a face
que belo desenlace
para a noite tempestuosa
que se abateu furiosa.
"A seguir à tempestade
vem a bonança",
esta é a maior verdade
que a mente alcança.
As gaivotas vêem na perfeição
o peixe, tal é a mansidão,
abatem-se sobre o mar
na sua maneira de pescar.

Um velho com a pele escurecida
pelo sol envelhecida
fuma o seu cachimbo talhado
enquanto conta histórias
a um jovem público, encantado
com aquelas vívidas memórias.
Histórias de tempestades trágicas
e de viagens mágicas.
Histórias de piratas,
de heróis e de aristocratas.
Histórias de encantar
todas sobre o mar.

Mar de golfinhos e baleias
tubarões, tritões e sereias.
Mar de viagens e paixões
naufrágios, batalhas e convicções.
Poseídon e o seu tridente
Governava o mar, sem gente.
O mais belo domínio era seu
quem me dera, o mar ser meu.
O mar é muito poderoso,
temido, desejado e assombroso.
Mar de sonhos e descobrimentos,
de tristeza, dor e lamentos.

Ó mar imenso
a poemas és tão propenso.
Moradia de musas
para versejar me usas.
Mantém-te calmo
com ondas de um palmo.
Espelhas o meu estado
acompanhas-me no meu fado.
Deixas-me a inspiração cheia
quando as ondas deslizam
calmamente sobre a areia,
onde o seu percurso finalizam.

quinta-feira, dezembro 09, 2004

Noite

Dizem que azul é a cor do céu
mas o preto estende-se como véu
cravejado de belos diamantes
valiosos cristais cintilantes.

Dizem que o sol nos ilumina
mas é a lua que me anima.
Dizem que a luz é vida
mas é o escuro que convida.

Deitado sob este manto cintilante
sinto-me a flutuar num instante.
Reanimado e reforçado
Encaro o escuro, deslumbrado.

A melhor parte da vida não é clara,
é misteriosa e obscura.
Não por ela, mas como se encara,
não é o meu pecado, é a minha cura.

É quando se é sonhador
quando a vida ganha cor
apesar dos olhos fechados,
e isto para os cansados.

Momentos de tamanha inspiração,
descanso, choro e meditação.
Histórias divertidas e inesquecíveis
de excessos e de pessoas incríveis.

Altura de tantas restrições,
nas horas limitações.
Erros e arrependimento,
falsidade e fingimento.

E é neste momento mágico
que ocorre algo trágico
um grito abafado pelo escuro
uma visão apagado pelo obscuro.

Mas apesar de tudo
é quando fico mudo
e me torno falador.
A tinta é a voz do escritor.

É quando sou liberto
É quando me faço afoite
É quando me sinto desperto.
É apenas Noite.

quarta-feira, dezembro 08, 2004

"Amo-te"

Batimentos helvéticos do meu coração
soam certinhos como numa canção.
Tal como os suiços dão as horas
sem avanços, atrasos ou demoras.

O relógio não me faz falta
porque a minha batida não se exalta.
Por ela conto as horas para te ver
e os segundos a teu lado,
ela dá-me o ritmo para escrever
e toca a guitarra neste fado.

Destino esse marcado pela batida,
pois se ela pára; adeus vida.
Preciso como a melhor relojoaria
precioso como requintada joalharia,
assim é o meu coração.
Não penses que precioso é presunção,
se o digo é porque é teu,
sou apenas quem te o ofereceu.

Embrulhado em versos frágeis
que na minha mente são ágeis.
Envolto em tamanho mistério
faz-se ouvir em som stereo.
Transmitindo a sua mensagem
na sua própria linguagem.
"Amo-te" a cada batimento
é a voz de um sentimento,
forte demais para ocultá-lo
tenho que proclamá-lo.

Mas é tão grande sentimento,
ao coração junta-se outro instrumento
que juntos em uníssono seguem
as indicações da batuta mental,
coração e voz prosseguem
nesta proclamação vital.
Dizem que te amo
e isto eu proclamo.
A caneta arrasto
a parker deixa o seu rasto
mostra que quero pra sempre amar-te
em palavras que catalogam de arte.

Palavras cheias de sentido
revelam o que não pode ser contido,
se a desabafos chamam poesia
e arte à minha idiossincrasia,
poeta não é título pedido
é apenas na obra adquirido.
Não é obra de engenheiro
é mais de quem descansa sob a sombra
de um grande e frondoso sobreiro
fazendo do trabalho que assombra,
refúgio frágil, instável e obscuro
escrito em azul escuro
para te dizer o que sinto por ti,
ficam as palavras que escrevi.

Não procuro colocar aqui nenhuma visão diferente do mundo nem da vida. Apenas quero mostrar o que os meus olhos vêem e o que eu sinto. Tal como Lisboa nesta foto parece uma Lisboa diferente da que conhecemos, mas é a mesma vista de outro local. Este blog tem por objectivo mostrar o que escrevo e que tanta gente me pedia para colocar na net. Espero que gostem, prometo dar atenção ao blog e tentar mantê-lo vivo, sempre com poemas novos. Usem os comments, pelo menos para eu saber que o que escrevo aqui, não fica só para mim. Quero agradecer a todos que aqui venham, mas especialmente às pessoas que gostam de ler o que eu escrevo e que me fizeram ver que a escrita pode ser mais do que um desabafo solitário. Obrigado.
by Marco

Falta a multidão

terça-feira, dezembro 07, 2004

Desejo (parte 2)

Da noite para o dia
o sono que me fugia
sem descobrir o que me corrompia,
que raio era o que ardia.

Continuava às voltas na cama
a pensar se alguém me ama,
mas não é daí o desejo,
não é a falta de um beijo.

O que é afinal o desejo?
A resposta eu invejo,
dizem que é uma grande vontade.
Até aí sei que é verdade.

Mas o meu desejo é do quê?
Não consigo perceber porquê.
Subitamente adormeço
ao cansaço pereço.

Continuo com este desejar,
corrompe-me o sonhar.
Estou realmente perturbado,
pensamento por todos corroborado.

Pois nesta divagação
sem qualquer explicação,
não compreendo o meu lamento,
não consigo mas tento.

Finalmente aconteceu
o dia amanheceu.
Fez-se luz na minha cabeça
Espero que o ardor desapareça.

O desejo era do que voltei a fazer,
era desejo de escrever.
Finalmente fiquei curado
sou pela escrita apaixonado.

Soneto

Com quatro estrofes apenas
se escreve das mais pequenas
a mais sonante
forma rimante.

Poesia que soa
que a caneta entoa
fortemente frágil
em rimas é mui ágil.

De todos, o mais belo poema
é o que está neste tema.
Com duas quadras,

seguidas de dois tercetos,
fica a memória que guardas
dos famosos sonetos.

segunda-feira, dezembro 06, 2004

Escrever sobre viver

Não vivo das aparências
escrevo das vivências
duma curta e cheia vida
qual história lida.

Não vivo para a escrita
é coisa mui bonita
dormir, comer e escrever
quase preferia morrer.

Qual era a piada que tinha
nada mais ter para fazer?
É mesmo para esmorecer.

Quero animar esta vida minha
não em diversão, mas utilidade
escapando à futilidade.