quinta-feira, novembro 25, 2004

Pessoa

Nesta hora inspirada
o sono não tarda
pareço um poeta
mais rápido que uma seta.

Pra poeta falta ópio e absinto
por opção ópio não sinto,
já o absinto não cheiro,
só pra cerveja há dinheiro.

Já escreveram o opiário
Pessoa talentoso do mesmo usuário,
não era sobredotado
era apenas viciado.

Versos eram o seu vício
ópio e absinto fuga ao hospício
protecções contra a loucura
para a qual não há cura.

Pessoa de tantos heterónimos
que de loucura são sinónimos,
tanto talento contido
necessitou ser dividido.

Um Pessoa em várias pessoas
não é milagre da multiplicação
milagre que tanto apregoas
múltipla personalidade é explicação.

Mas também que se pode querer
de alguém que era drogado?
Embora muito talentoso ser,
a droga e o álcool dominavam o coitado.

Assim também eu tinha
multipersonalidade só minha,
drogado e macilento
das rimas a tirar sustento.

Pessoa sem trabalhar
para toda a inspiração
poder aproveitar,
sem perder a concentração.

Esta vida de poeta cansa,
esta é a última dança.
Deitado já eu estou
dormir eu vou.

Esta inspiração nocturna
é contrária à energia diurna.
Sou um noctívago ensonado.
Um escritor cansado.

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